Nos últimos meses, o número de casos de agressões físicas e verbais contra entregadores de aplicativos na cidade do Rio de Janeiro registrou um número significativo, inclusive com mortes.
Um estudo da plataforma Fogo Cruzado apontou 36 óbitos entre os 44 entregadores baleados em serviço no Grande Rio, nos últimos 8 anos.
Outro levantamento foi o da plataforma de entregas Ifood. Só este ano, o aplicativo registrou mais de 13 mil queixas de entregadores, sobre ameaças e agressões físicas. Em 16% dos casos, os problemas aconteceram porque o cliente exigiu o recebimento dos produtos na porta.
Um dos alvos foi o entregador Rafael Simões, que atua em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
“O pessoal pensa que somos escravos deles, porque eles pagam 7, 8 reais de taxa e aí pensa que o cara é escravo dele. Estão confundindo entregador com garçom. Não somos garçons, a gente sobe para evitar problema, mas não é nossa obrigação. A obrigação é entregar”, afirma.
O Rio de Janeiro é considerado o lugar mais crítico para a categoria trabalhar, o que fez a empresa criar uma campanha para conscientizar seus clientes. Outra medida foi colocar à disposição dos seus colaboradores uma Central de Apoio Jurídico e Psicológico, em parceria com o coletivo de advogadas negras, Black Sisters in Law, que presta assistência a entregadores vítimas de discriminação, agressão física, ameaça, assédio, abuso e/ou violência sexual, como explica a fundadora, Dione Assis.
“A iniciativa recebe denúncias do brasil todo. As queixas variam conforme a região. No caso do Rio de Janeiro, que é a cidade com mais incidentes, isso pode acontecer porque é uma cidade que enfrenta os seus desafios socioeconômicos”, acredita.
Dione Assis observa ainda que esse comportamento de muitos clientes reflete aspectos da herança escravocrata brasileira.
“Podemos incluir o elemento racial porque os entregadores no Brasil são, majoritariamente, homens pretos e pardos. É uma informação importante porque ela povoa o imaginário do cliente de que virá ao encontro dele uma pessoa com essas características, o que dá a ele a impressão de que ele pode exigir que ele suba, mesmo que não seja essa a orientação da plataforma”, avalia.
Entre os registros de agressão com mais repercussão, no Rio de Janeiro, estão o do entregador baleado, esta semana, por um cliente policial, que não quis descer do andar onde mora para pegar o pedido. E o caso do entregador “chicoteado”, em abril do ano passado, no meio da rua por uma mulher, simplesmente porque ela estava incomodada com a presença dele, um homem negro, próximo à sua casa. A agressora usou uma coleira de cachorro para bater no entregador.