Especialistas afirmam que a queda de 10% nas ações da Petrobras, mesmo com o alto lucro em 2023, é uma resposta de investidores “descontentes” com mudanças no pagamento dos chamados dividendos extraordinários. Os dividendos são parte do lucro da empresa, que é dividido entre os acionistas (as pessoas que investem em ações para receberem o lucro). Já os dividendos extraordinários vêm da arrecadação além do previsto.
Para o Economista da Universidade Federal de São Paulo, André Rocaglia, a queda nas ações é resultado da frustração dos investidores que, segundo ele, querem receber logo os dividendos extraordinários. Mas ele explica que a diferença está apenas no prazo, já que os lucros serão repassados no futuro, de forma mais cuidadosa.
“O que eu acho que aconteceu é a típica frustração de mercado, com o resultado que veio abaixo do que eles esperaram em termos de distribuição de dividendos. O que também reflete um pouco a nova gestão da Petrobras que está orientada mais para o longo prazo e com isso reter parte desses recursos que seriam distribuídos como um colchão de liquidez pra empresa, que é muito importante para que ela possa melhorar sua nota de crédito, reduzir os juros nos seus financiamentos e com isso investir mais na transição energética”, afirmou Rocaglia.
De acordo com Roncaglia, os dividendos extraordinários também serão utilizados nos investimentos em transição energética da empresa de economia mista. É que na última reunião, a maioria do Conselho de Administração da Petrobras votou por não distribuir esses dividendos extraordinários para os investidores, que já recebem os dividendos previstos. O economista do Observatório Social do Petróleo, Eric Dantas, explica que com a redução das ações, os acionistas pressionam a estatal para que recebam mais lucros ainda.
“Há uma pressão para que a Petrobras pague ainda mais dividendos, mesmo ela sendo a maior pagadora de dividendos do Brasil. O mercado sempre vai querer que a Petrobras pague mais. Mesmo que isso prejudique o caixa da empresa. Então no final das contas é uma disputa do mercado”, disse Dantas.
O Diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos, também avalia a queda nas ações como “uma expressão de descontentamento” dos acionistas.
“Além desses R$ 72,4 bilhões previstos de distribuição em 2024, a Petrobras realizou recompra de ações e já anunciou uma reserva de lucros remanescentes de 2023 que devem ser destinados futuramente para os acionistas. Em certa medida, não casa com o descontentamento desses atores de mercado – que tem uma visão que a Petrobras é uma empresa que deve apenas gerar lucratividade e distribuir dividendos num curto prazo”, disse Ramos.
A decisão do conselho da Petrobras contraria a ideia do presidente da empresa, Jean Paul Prates, que se absteve na votação. Ele defendeu que metade dos valores extraordinários fosse distribuído entre os acionistas e a outra metade ficasse na empresa. Mas o conselho decidiu que todo esse dinheiro deve ficar nas reservas da Petrobras para investimentos. Na última sexta-feira (8), Prates disse a jornalistas que não tem interesse em favorecer o mercado, ao se abster.
“Não tenho absolutamente nenhum interesse em projetar informação nem trazer informação, muito menos de combinar com pessoas. Como é a primeira vez que está sendo usado, provavelmente também isso esteve na mente dos conselheiros que propuseram os 100%. Na verdade essa foi até a razão alegada no final. Vamos aprofundar mais essa questão da distribuição desses dividendos extraordinários. Cumprimos a regra? Cumprimos a regra. Esse aqui, a gente vai ver o que faz. Como tem a conta, vamos utilizá-la. Basicamente foi o que aconteceu”, explicou Prates.
Além da queda nas ações, a Petrobras perdeu mais de R$ 55 bilhões em valor de mercado, mesmo depois de registrar o segundo maior lucro líquido da história, no ano passado: mais de R$ 124 bilhões.
*Com a colaboração do repórter Lucas Pordeus Leon.
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