Marimbondo, dendê, canjica, caçula. Quem visitar o primeiro andar do Museu da Língua Portuguesa, no coração da Estação da Luz, no centro de São Paulo, vai reencontrar e redescobrir palavras e sons provenientes de línguas africanas que se fazem presentes no cotidiano brasileiro.
Na exposição “Línguas africanas que fazem o Brasil”, obras artísticas, entre esculturas, salas interativas, fotografias e canções mostram como narrativas em iorubá, fom, quimbundo e quicongo ajudaram a influenciar a forma como nos expressamos e pensamos hoje em português.
Palavras impressas em estruturas ovais de madeira penduradas pela sala fazem a recepção já na entrada da exposição. Num cinema interativo, o visitante será surpreendido com uma projeção de imagens ao enunciar palavras de origem africana como axé, afoxé, zumbi e acarajé.
Quem explica como a exposição foi pensada para que o público vivenciasse, se reconhecesse e refletisse sobre as línguas africanas na cultura brasileira é o músico e filósofo Tiganá Santana.
“A ideia era que essas palavras tivessem materialidade. Por isso, estão impressas em madeira. E, por isso também, é que elas estão seguidas por espelhos. Porque essa materialidade se dá nos corpos das pessoas, que se veem, que se reconhecem nessa dimensão de pensamento. Porque pensam e escrevem, falam, a partir dessas palavras, mas não só. De estruturas mesmo, inclusive mais complexas, se configuram, aqui no Brasil, a partir das línguas africanas”.
A artista Rebeca Carapiá criou para a exposição uma série de esculturas em metais em diálogo com frequências de sons do tambor e de grafias afrocentradas. Baiana de Salvador, ela conta que cresceu com um universo de palavras e narrativas provenientes das linguagens africanas.
“A gente tem muitas heranças de origem quimbundo, de origem banto… pensando em algumas aqui: moleque, muvuca, dengo… esse trabalho chama ‘Caderno de notas’, é um conjunto de 15 esculturas dobradas a mão e ferro e, pra essa exposição, a convite do Tiganá, eu ouvi os tambores africanos, que também são instrumentos de linguagem, que produzem palavras”.
A artista visual fluminense Aline Motta está com duas instalações na exposição. Em uma delas, desenvolvida em parceria com o historiador Rafael Galante, formas milenares de grafias do povo bakongo, presente em territórios como o angolano, estão projetadas no chão em larga escala.
“Também faz parte da instalação uma caixa com provérbios… e são 100 provérbios, que as pessoas podem tirar, como se fosse um oráculo mesmo e, com isso, terem contato com essa tradição do provérbio, que traz essa memória afetiva das nossas avós. Uma maneira de passar um ensinamento que não fosse rapidamente esquecido. Por isso ele é repetido e você acaba decorando”.
A entrada no Museu da Língua Portuguesa é gratuita aos sábados e domingos. A exposição Línguas Africanas que fazem o Brasil fica em cartaz até janeiro de 2025.
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