A energia eólica é a segunda maior fonte da matriz elétrica do Brasil, com mais de mil parques instalados no país e mais de 11 mil aerogeradores em operação, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica.
Mas pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade de Pernambuco investigam agora as consequências para a saúde da população que vive no entorno das torres com turbinas geradoras.
O recorte do estudo, iniciado ano passado e que deve durar até 2026, é com moradores de comunidades rurais de 3 cidades do Agreste pernambucano que estão há pelo menos dez anos em exposição contínua e bem próxima de Parques Eólicos. Uma delas é Caetés, onde em 2014, dois parques de geração de energia eólica, com 220 torres, foram instalados.
A primeira etapa do estudo, com o recolhimento de relatos, entrevistas e mutirões de saúde, foi realizada entre março e dezembro de 2023, no Sítio Sobradinho, em Caetés. Foi feito um levantamento do registro de doenças nas comunidades, antes e depois da instalação das turbinas. Foram entrevistados 105 moradores da comunidade onde existem 83 torres instaladas. 57% deles relataram ter interesse em deixar o local.
A análise de diagnóstico de saúde realizada por especialistas durante os mutirões trouxe relatos de muitos moradores com sintomas das chamadas Síndrome da Turbina Eólica e da Doença Vibroacústica. Ambas são causadas pela exposição aos ruídos e infrassons, por tempo prolongado – e no caso pesquisado, emitidos justamente pela rotação das hélices das torres. Apenas para efeito explicativo: enquanto a doença tem causa definida, uma síndrome revela uma condição quase sempre sem causas diagnosticadas.
Uma das coordenadoras do estudo, a pesquisadora e professora da FioCruz, Wanessa Gomes, destaca os principais sintomas, diagnosticados na Síndrome da Turbina Eólica.
“São problemas de concentração, aprendizagem, tontura, instabilidade, dores de cabeça, dificuldades em adormecer, a falta de equilíbrio. Então, tem muita essa relação também com a saúde mental. Os moradores, falam que, depois da implantação do Parque, começaram a ter vários problemas relacionados ao sono, ansiedade, irritabilidade, dores de cabeça, problemas na audição, no trato respiratório”.
Já no caso da Doença Vibroacústica, os infrassons, os ruídos de baixa frequência das torres também vibram no corpo humano e trazem muitos malefícios para a saúde, diz a pesquisadora.
“Os ruídos de baixa frequência, atingem principalmente o sistema circulatório e o sistema vascular. E tem como principal característica, o aumento da produção desenfreada de colágeno e elastina, o que ocasiona o engrossamento das camadas médias das paredes dos vasos e isso vai interferir no fluxo sanguíneo. Isso pode levar a hipertensão e a problemas cardíacos também”.
A segunda etapa acontece agora em julho no Sítio Malhada do Cosmo, que fica na cidade de Paranatama e no Sítio Pontal, na cidade de Venturosa. Os pesquisadores farão uma audição dos ruídos em algumas casas vizinhas às turbinas eólicas em parceria com a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas.
Etapas posteriores vão considerar a realização de testes clínicos em alguns participantes da pesquisa. Estudos de outras instituições já revelam que os ruídos não audíveis provocados pelas turbinas eólicas podem afetar a saúde das populações residentes até, pelo menos, 15 quilômetros de distância dos parques eólicos. A literatura científica de outros países já avançou em testes conclusivos e, em alguns locais, a Síndrome da Turbina Eólica já entrou no código internacional de doença, segundo a pesquisadora Wanessa Gomes.
* Com produção de Dayana Vitor
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