Em maio, Pedro Nuno já tinha invocado Cavaco para defender apoios seletivos a áreas estratégicas da economia. E já na altura defendia que a transformação da economia não passava por “baixar o IRC”, uma proposta do pacote de 60 medidas do Governo que deixa o PS mais longe de viabilizar o próximo Orçamento do Estado.
Esta terça-feira, o socialista voltou a referir-se a Cavaco, considerando que o social-democrata “deve ser um dos desiludidos com o chamado ‘pacotão’ que foi apresentado ao País”, “quase tanto” como o próprio PS.
Pedro Nuno lembrou que Cavaco “recentemente voltou a defender a necessidade de uma estratégia de política industrial”, num artigo de opinião publicado no jornal Expresso em que também sugeriu a convocação de eleições legislativas antecipadas.
Nesse artigo, o ex-chefe de Estado disse existirem apenas duas vias no quadro político para “Portugal dar um importante salto em frente” nos próximos dez anos. Ou “um Governo com apoio maioritário na Assembleia da República na sequência da realização de eleições legislativas, antecipadas ou não”, ou um Executivo minoritário na condição de os “partidos extremistas” perderem “peso” e de se estabelecerem “pactos de regime” com a oposição.
O primeiro-ministro, para quem Cavaco é assumidamente a “referência política maior”, começou por argumentar que não está “preocupado com a duração da legislatura”, mas esta segunda-feira afirmou que se o PS estiver a fazer “jogo” sobre a negociação do Orçamento do Estado para 2025, “então tenha a coragem de deitar abaixo o Governo”.
“Isto não é uma ameaça, nem é um desejo”, esclareceu Montenegro, “consciente do prejuízo para o País que uma nova crise política podia trazer”. Mas Pedro Nuno criticou o Executivo por “ameaçar com eleições” antecipadas, em linha com o que Cavaco fez na década de 1980 enquanto primeiro-ministro e lhe permitiu partir para a conquista de duas maiorias absolutas.