De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), candidato à Prefeitura de São Paulo, tem mobilizado uma ampla militância para impulsionar sua campanha nas ruas da capital paulista. Boa parte dessa mobilização, composta por homens e mulheres com bandeiras, adesivos e panfletos, é remunerada. De acordo com a prestação de contas enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha de Boulos já gastou mais de R$ 6 milhões com “atividades de militância e mobilização de rua”, a quarta maior despesa entre os R$ 51 milhões registrados até agora.
Embora historicamente associada à militância orgânica, a esquerda enfrenta a necessidade de contratar cabos eleitorais para garantir uma presença forte nas ruas. Essa estratégia é vista como crucial para o PSOL e o PT, que se uniram na disputa municipal. Boulos, quando questionado sobre os custos da militância paga, defendeu sua abordagem: “Acredito na campanha que faço de motivação, de verdade, de olho no olho”.
Segundo um dos organizadores da campanha, o trabalho dos apoiadores de rua é fundamental para atingir uma parcela da população que não acompanha as propagandas eleitorais na TV ou nas redes sociais. Para o sociólogo Paulo Niccoli Ramirez, da FESPSP e da ESPM, essa abordagem é particularmente importante para Boulos, que, por não ser governo, precisa “atrair a atenção da população de alguma maneira”. Ramirez, no entanto, ressalta que há uma “decadência desse modelo (corpo a corpo) nas ruas”, já que a internet “monopolizou a campanha com memes, discursos espalhafatosos e linguagem mais lúdica”.
Apesar da força da militância nas ruas, Boulos também tem investido pesado no ambiente digital. As despesas com impulsionamento de conteúdos nas redes sociais já ultrapassam R$ 7 milhões, superando o gasto com a militância paga. Em relação ao pagamento dos cabos eleitorais, a reportagem apurou que divulgadores recebem cerca de R$ 1.350 por mês, enquanto coordenadores de equipe ganham mais do que o dobro. O contrato exige atividades como “panfletagem, distribuição de folhetos, divulgação de candidatura por todos os meios permitidos por leis, inclusive eletrônicos”.
Parte dos cabos eleitorais são oriundos de movimentos sociais ou indicados por filiados ao partido. É o caso de Solange Nascimento Galdino, que participa pela primeira vez de uma campanha política: “Vim por necessidade também, e é uma maneira de conhecer o candidato, ver como ele é do nosso lado”, disse ela, durante uma carreata de Boulos na zona norte da capital.
Contudo, nem todos os contratados no primeiro turno foram chamados para o segundo. Um grupo de cabos eleitorais tentou cercar Boulos na estrada M’Boi Mirim, na zona sul, para reivindicar o pagamento de R$ 1.150. Um documento apresentado à reportagem por uma militante contratada no primeiro turno confirma que, em caso de segundo turno, o contrato seria prorrogado até 26 de outubro, com pagamento de R$ 1.150 pelos serviços prestados.
Enquanto isso, o adversário de Boulos, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), registrou um total de R$ 44 milhões em despesas de campanha, mas não especificou gastos com “atividades de militância e mobilização de rua”. Nas contas do prefeito, a maior despesa até o momento é com “serviços prestados por terceiros”, somando R$ 17 milhões.
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