O Banco Central (BC) atribuiu, nesta terça-feira (17), a recente disparada do dólar, que atingiu R$ 6,09, a uma combinação de fatores domésticos e externos. Entre as principais causas estão a reação negativa do mercado ao pacote fiscal anunciado pelo governo e a crescente percepção de risco entre os agentes econômicos, que resultaram em forte valorização da moeda americana.
O anúncio do pacote fiscal pelo governo federal foi recebido com desconfiança pelos investidores. As medidas incluíram cortes de gastos acompanhados de propostas como o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, o que, segundo o BC, elevou as expectativas de inflação e as incertezas sobre o equilíbrio fiscal no médio prazo.
Para o BC, a percepção de risco aumentou significativamente, impactando o mercado de ativos, a taxa de câmbio e os juros futuros. As expectativas inflacionárias, que estavam parcialmente ancoradas, se deterioraram após o anúncio. A instituição classificou a situação como “desafiadora” e ressaltou que políticas fiscais devem ser previsíveis e críveis para evitar novas pressões sobre o câmbio.
A disparada do dólar, que rompeu a barreira dos R$ 6, tem sido impulsionada por fatores internos e externos. O cenário global de desaceleração econômica, especialmente nos Estados Unidos, aumentou a aversão ao risco nos mercados emergentes. No contexto doméstico, a percepção de fragilidade fiscal contribuiu diretamente para a depreciação do real, fazendo com que investidores busquem proteção na moeda norte-americana.
O Banco Central agiu para conter o avanço do dólar, realizando intervenções no mercado cambial na última segunda-feira (16), com a venda de US$ 1,6 bilhão à vista e um leilão de linha de US$ 3 bilhões. No entanto, as ações não foram suficientes para evitar que a moeda encerrasse o dia em R$ 6,09, um novo recorde.
Diante da deterioração do cenário econômico, o BC anunciou a elevação da taxa Selic para 12,25% ao ano, representando o terceiro aumento consecutivo. O Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou ainda que novas altas podem ocorrer no início de 2025, como forma de controlar a inflação e estabilizar o câmbio.
O BC alertou que o repasse da alta do dólar para os preços internos tende a ser maior quando a demanda doméstica está aquecida e as expectativas inflacionárias estão desancoradas. Em comunicado, a instituição reforçou a necessidade de políticas fiscais alinhadas com a política monetária, sob risco de novos choques de juros e de deterioração econômica.
Além do contexto interno, o BC destacou que a desaceleração global, especialmente nos Estados Unidos, contribui para a incerteza nos mercados, intensificando a valorização do dólar frente às moedas emergentes.
Para 2024, a meta de inflação foi fixada em 3%, com variação entre 1,5% e 4,5%. No entanto, as projeções do BC indicam que a inflação deverá ultrapassar o teto da meta, reforçando a necessidade de medidas mais restritivas.
O Banco Central concluiu que, diante das incertezas fiscais e cambiais, a política monetária deverá continuar rigorosa nos próximos meses. A instituição prometeu monitorar os desdobramentos econômicos para ajustar suas ações e evitar que o cenário atual de instabilidade se aprofunde.
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