O governo do Haiti prorrogou por um mês o estado de emergência em parte da capital, Porto Príncipe, por causa da violência. A medida vale até o dia 3 de abril. Durante esse período, manifestações públicas estão proibidas. O toque de recolher na região segue até a próxima segunda-feira (11).
A escalada de violência vem crescendo com gangues libertando milhares de prisioneiros no fim de semana. Mas o país convive com a pressão dos criminosos desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021.
O alvo dos atuais ataques é o primeiro-ministro Ariel Henry, que está em Porto Rico, ainda sem saber quando voltará ao Haiti. Henry deveria ter organizado eleições no país em fevereiro. As gangues e grupos da oposição política querem a renúncia dele.
Para o professor e doutor em Relações Internacionais, Ricardo Seitenfus, Henry cometeu uma série de erros.
“E um deles foi imaginar que ele poderia ser o homem da transição e levar adiante esse processo, sempre adiando, sempre adiando, sempre adiando, e não cumprindo os acordos feitos com as oposições. A paciência do internacional, muito especialmente os Estados Unidos, não é inelástica, chegou um dado momento que eles viram essa oportunidade de fazer uma pressão definitiva, decisiva, sobre o Ariel Henry. Ou ele organiza as eleições, ou ele não volta para o Haiti”, avalia.
No caso de Henry não voltar ao Haiti, a grande dúvida que fica é o que vai acontecer com o país, diz o professor.
“Quem vai ocupar esse vácuo do poder? O grupo de Montana, das oposições? As gangues, o internacional? Essa é uma incógnita. Além do destino político e, inclusive pessoal, do Ariel Henry, o que está em jogo é o destino do Haiti. E não há confiança em nenhum dos atores”, acredita.
Uma pesquisa do Médicos sem Fronteiras mostra que mais de 40% das mortes no maior bairro de Porto Príncipe, entre 2022 e 2023, estão ligadas à violência.