“Nós somos de um órgão estatal, dependemos do Estado, eu penso que há um certo medo por parte de nós, fazedores da comunicação social, divulgarmos alguma coisa, isto por falta de meios, recursos”, apontou, em declarações à Lusa, a propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que hoje se assinala, a jornalista da Rádio Nacional Hermínia das Neves.
A jornalista, que chefia o departamento de programas da Rádio Nacional são-tomense, considera que “os jornalistas são dependentes e vivem praticamente desta miséria” salarial “que o Governo dá e têm medo de acompanhar com mais pormenores as coisas que acontecem no país e divulgá-las”.
“Nós fazemos censura a nós mesmos”, disse, salientando que os diretores dos órgãos de comunicação social estatais são, “de um tempo a essa parte escolhidos pelos partidos políticos, logo têm que fazer aquilo que os partidos políticos (querem)”.
“Há certas informações que não podemos passar de certa maneira. Ainda que seja verdade, mas é muitas vezes omitida devido algumas questões que tem a ver com o Governo/política (…) infelizmente esta é uma das dificuldades que temos aqui em São Tomé e Príncipe”, acrescentou, por seu turno, o jornalista Weldemiro Afonso, da Televisão são-tomense.
Afonso apontou que os jornalistas vivem o dilema entre passar a informação com rigor ou agradar aos detentores do poder.
“Se nós tentarmos, às vezes somos censurados, há sempre a equipa que trabalha no ramo do Governo que vem censurar, escolher as melhores partes”, precisou.
Referiu ainda que, devido aos “salários baixos” da comunicação social, muitos jornalistas quebram algumas leis exercendo cumulativamente a função de assessoria de imprensa e outros que aceitam fazer as reportagens em função de compensações financeiras de pessoas interessadas.
“O poder nem sempre permite que tudo passe, mas, no entanto, acho que estamos a caminhar pouco a pouco em termos de liberdade de imprensa, estamos cada vez mais a abrir, mas é preciso fazer muito mais para que essa liberdade venha a se efetivar melhor”, considerou a jornalista da televisão são-tomense Amarilde Santos.
“É preciso que se dê espaços aos jornalistas para que eles possam falar (…) (e ter) acesso à informação”, apelou.
O presidente da Associação dos Jornalistas Santomenses (AJS), Juvenal Rodrigues, disse que “a situação dos profissionais e colaboradores dos órgãos de comunicação social, particularmente os estatais, é deplorável, o descontentamento está alastrado, a motivação nos níveis mais baixos e a desesperança é uma manta pesada”, pelo que, “neste cenário, é difícil prestar um serviço público de qualidade”.
No entanto, o ministro da Presidência do Conselho de Ministros, que tutela a comunicação social são-tomense, assegurou que “o Governo assinala com preocupação todas as formas de limitação à liberdade de imprensa, pois tem a consciência e a certeza de que o pluralismo e a democracia pagam importantes tributos à liberdade de imprensa, à imprensa livre e ao profissionalismo”.
“O Governo sabe bem que não há país no mundo que se tenha desenvolvido de forma duradoura, consistente e sustentável impedindo a comunicação social de fazer o seu trabalho e isso inclui, para além do não cerceamente da atuação e de consciência, a criação de condições laborais condignas para o exercício da profissão, quais sejam melhores instalações e equipamentos, mais e melhor formação e capacitação, melhores condições salariais”, defendeu Lúcio Magalhães.
O Governante, que discursava numa conferência realizada em São Tomé para assinalar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, alertou que “o jornalismo desregrado e sensacionalista, destrutivo ou de escândalo deve ceder lugar ao jornalismo de pesquisa, de investigação, de interpretação refletida” e “deve ser sempre que possível analítico e explicativo”.