Yuriy Merkotan é saxofonista e alistou-se na guarda nacional da Ucrânia, em 2020, para tocar na banda militar. Em fevereiro de 2022, quando se deu o início da invasão russa da Ucrânia, Yuriy, tal como os outros 15 membros da banda, foi chamado para combater. Passado um mês, o músico foi apanhado no cerco à cidade de Mariupol e foi, juntamente com mais de dois mil ucranianos, levado para cativeiro na Rússia.
Yuriy foi libertado em janeiro deste ano e, em entrevista ao The Guardian, conta que foi submetido a agressões físicas e psicológicas e que, durante os 20 meses em que esteve preso, perdeu cerca de 60 quilos.
“Tentei explicar que era músico, mas não funcionou. Tu dizes que és músico e isso irrita-os tanto que eles batem-te mais”, explicou Yuriy.
O músico contou que no início foi levado, juntamente com outros prisioneiros, a exumar os corpos de quem morreu nos bombardeamentos em Mariupol. Durante esse período, Yuriy Merkotan sentiu-se mal por diversas vezes, tendo sofrido de diarreia e mal conseguindo comer. Mais tarde, foi vendado e transportado para uma prisão na Rússia, onde estava proibido de sentar-se ou deitar-se entre as 6h00 e as 22h00. Além disso, estava sempre a ouvir os mesmos programas de rádio. Merkotan referiu ainda ao The Guardian que era agredido pelos guardas com cassetetes e, por vezes, com choques elétricos. Ao longo do cativeiro, o músico foi transferido de prisão por diversas vezes.
Além das agressões físicas, o saxofonista disse que os prisioneiros eram obrigados a recitar poemas com pedidos de desculpas e que menorizavam a Ucrânia.
“Não há Ucrânia sem a Rússia. É tão inútil como uma fechadura sem chave”, recorda Yuriy, citando os versos de um poema.
Segundo o The Guardian, vários grupos de direitos humanos da Ucrânia relatam testemunhos idênticos partilhados por vários prisioneiros que estiveram em cativeiro na Rússia.
