O relatório da investigação da Polícia Federal aponta como uma das motivações para o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, a sua atuação na Câmara contra projetos que promoviam um esquema de loteamento de terrenos controlados por milícias na Zona Oeste do estado fluminense.
Para o especialista em Atuação de Milícias e Conflitos por Terra, José Cláudio
Alves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, as prisões envolvendo a morte de Marielle não podem ser tomadas como uma solução do problema. Para ele, o caso deve ser visto como um registro sobre a complexidade que envolve o negócio de terras e as milícias do Rio.
“A grande questão para nós, que analisamos o caso, é a seguinte: a prisão deles não pode virar simplesmente um estandarte, uma bandeira de um sucesso que foi obtido. Ela é apenas uma batalha ganha no meio de uma guerra imensa”, avalia.
José Cláudio Alves fala como operam as milícias.
“Você vai dar emprego para as pessoas que estão ali atuando na construção imobiliária nesses territórios. Territórios controlados. Você vai colocar áreas de lazer, clubes sociais, transporte clandestino, enfim, comércio. Você vai cobrar taxas. Você tem uma infinidade de ganhos”, detalha.
Por fim, José Cláudio conclui que o cenário aponta que mandantes, executores e aqueles que obstruíram as investigações são todos agentes ou ex-agentes públicos. Para o especialista, esses seriam o que ele chama de “tentáculos das milícias”.
“Que o caso Marielle nos sirva para abrir os olhos para as estratégias, não as ilegais – essas foram identificadas e até mais fácil combater – mas as legais que continuam funcionando, e que ninguém arranha, ninguém toca nessa estratégia. Marielle simplesmente tocou em uma que ela não poderia, ela não sabia e ela foi assassinada”, finaliza o especialista.
Marielle e Anderson foram assassinados a tiros, em um cruzamento na região central do Rio de Janeiro, em março de 2018, enquanto se deslocavam de carro após uma agenda de trabalho.