O ministro aludia à guerra na Ucrânia, iniciada pela invasão russa em fevereiro de 2022, que conferiu uma nova relevância às missões dos F-16 da Força Aérea e do Corpo de Fuzileiros da Marinha, com as suas missões de patrulhamento no Mar Báltico no âmbito da NATO.
Em declarações à agência Lusa e à TVI/CNN, na base aérea de Siauliai, na Lituânia, onde estão colocados quatro caças de combate F-16 e 87 militares portugueses, Nuno Melo disse que a missão de vigilância na região do Báltico vai prosseguir no futuro, pelo menos através da Força Aérea.
“A presença portuguesa junto a esta fronteira tão sensível ficará também assegurada em relação ao futuro através da Força Aérea, mas não apenas”, indicou o ministro, sem mais detalhes, em relação às missões nacionais, que são renovadas numa base anual.
Para o ministro da Defesa, esta presença na Lituânia, vizinha do enclave russo de Kalinegrado, “mostra como Portugal consegue estar do lado certo da história”, juntamente com aqueles que “defendem a democracia e a liberdade contra as ditaduras e a opressão”.
Nos últimos dias, vários parceiros da Ucrânia têm defendido o uso de armamento ocidental pelas forças de Kiev contra alvos militares em território russo, mas o assunto continua a dividir os aliados.,
Na quarta-feira, Nuno Melo também se mostrou favorável a que as forças ucranianas visem solo russo, quando questionado sobre o assunto à margem do Fórum Schuman em Bruxelas, mas ressalvou que se tratava de uma posição pessoal que não vinculava o Governo.
Esta quinta-feira não quis adiantar “nem mais uma linha nem mais uma palavra ao que foi dito e reproduzido”, observando apenas que se referiu a “operações defensivas com tudo o que isso implica”, acrescentando: “Quem percebe de contexto militar, sabe do que estou a falar”.
Do mesmo modo, o ministro da Defesa não voltou ao tema da ajuda militar de Portugal à Ucrânia, após o acordo bilateral assinado com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na terça-feira em Lisboa, dando por explicado “o que já foi abundantemente esclarecido pelo senhor ministro dos Negócios Estrangeiros”, relativamente ao montante de 126 milhões de euros de auxílio a Kiev envolvidos no entendimento para 2024 e a 250 milhões que Paulo Rangel assinalou até 2025.
“No que tem a ver com apoio à Ucrânia, e na medida das nossas possibilidades na componente militar, muito tem sido feito no passado, está a ser feito e será feito no futuro”, afirmou, frisando que a ajuda tem um horizonte alargado no tempo e outras preocupações prioritárias como a reconstrução.
Segundo Nuno Melo, “há uma guerra que se tem que vencer e um país que tem que ser reconstruído e que queremos que esteja connosco na União Europeia e isso é que é importante”, sendo o resto “uma certa ‘mercearia’ naquilo que é a dialética na discussão política”.
Para o ministro da Defesa, “a política externa tem a ver com uma grande credibilidade em Portugal”, num contexto das “nações civilizadas”. É nesse sentido que enquadra a primeira visita a missões portuguesas no exterior desde que tomou posse, em abril passado, e particularmente “por causa da circunstância geopolítica” e do que ali se trava, disse, referindo-se à região do Báltico.
Atualmente, segundo o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, José Nunes da Fonseca, que acompanha a comitiva ministerial na Lituânia, Portugal tem mais de mil militares dos três ramos das Forças Armadas em quatro continentes.
“Estamos a falar de oito missões da União Europeia, oito da NATO, há duas missões da ONU, seis de diversas coligações, uma no âmbito do Frontex, sempre com extraordinários militares que representam o melhor das Forças Armadas”, destacou Nuno Melo, fazendo um elogio aos militares portugueses por “estarem à altura dos tempos e daquilo que lhes é pedido, lado a lado com qualquer outro aliado, ou qualquer outro país”.
O governante também não se alongou em relação a uma solicitação que, segundo o homólogo lituano, Laurynas Kasciunas, lhe foi dirigida da parte da manhã num encontro que ambos mantiveram em Vílnius a propósito de formação em sistemas de defesa aérea.
“O que é relevante é perceber a capacidade das Forças Armadas nos três ramos, de facto, de darem formação aos nossos aliados sempre que solicitadas, nomeadamente no contexto da NATO, mas não só, em diversas missões”, disse o titular da Defesa, interpretando que se trata de um reconhecimento do que já fizeram no passado.
Nuno Melo sustentou que “é muito bom e importante que os portugueses tenham noção da capacidade do estado de prontidão e também da necessidade de investimento constante nas Forças Armadas”, que não entende como um capricho, mas antes como “a primeira expressão de soberania” e que precisa de investimento.
A esse respeito, também preferiu não comentar declarações recentes do chefe do Estado Maior da Força Aérea, João Cartaxo Alves, que integra igualmente a comitiva ministerial e que alertou para a necessidade de Portugal substituir os caças F-16, como aqueles que foram destacados para a Lituânia, por aparelhos mais modernos, como os F-35.
“O que eu digo é que seria muito anormal que os maiores responsáveis pelos diferentes ramos não reclamassem o melhor da tecnologia. É isso que é suposto e é suposto também no poder político conseguir adequar as possibilidades orçamentais àquilo que são os desejos das Forças Armadas”, limitou-se a comentar.
Nuno Melo prometeu um diálogo permanente tendo como prioridade o investimento nas Forças Armadas, “com base na verdade para não falhar”, com as chefias militares dos três ramos, que, à exceção do Exército, o ouviam no instante destas declarações na base aérea de Siauliai.
Além da visita ao destacamento de F-16 da Força Aérea, o ministro da Defesa deslocou-se ao campo militar Kairiai, onde se encontram 146 elementos do Corpo de Fuzileiros, com a missão de dissuadir ameaças no flanco leste da NATO, através de uma presença militar continua, e que deverá ser reforçada com uma aeronave de patrulhamento marítimo P-3 e respetiva tripulação.
O governante viaja acompanhado pelo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, José Nunes da Fonseca, e pelos chefes dos ramos da Armada, Henrique Gouveia e Melo, e da Força Aérea, João Cartaxo Alves.