O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) completa 35 anos na próxima quarta-feira (11) e, se for escolhido como o candidato de Arthur Lira (PP-AL), Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) à presidência da Câmara, tem tudo para sacramentar uma característica marcante de sua até agora curta carreira política, além de bater um recorde.
Motta está em seu quarto mandato e sempre se destacou pela boa relação com as diversas correntes políticas na Câmara, além de estar na órbita dos poderosos —foi um dos principais aliados de Eduardo Cunha, que presidiu a casa em 2015 e 2016, e também se manteve próximo aos sucessores Rodrigo Maia (2016-2021) e Arthur Lira (desde 2021).
O recorde será superar Luís Eduardo Magalhães —que virou presidente da Câmara em 1995 próximo de completar 40 anos— e se tornar o mais jovem presidente da Casa do atual período democrático.
Assim como Lira, o estilo político de Motta privilegia a atuação de bastidores. Em termos legislativos, sua atuação mais marcante se deu em relatorias e funções dadas a ele pelos últimos presidentes da Casa.
Desde que chegou à Câmara, em 2011 e com apenas 21 anos de idade, somente duas proposições em que ele consta como autor aparecem como tendo sido transformadas em lei, ambas assinadas coletivamente por vários deputados.
Trata-se da proposta que disciplinou na Constituição a carreira de agentes de trânsito e a chamada PEC da Anistia, que neste ano perdoou partidos políticos e diminuiu a verba eleitoral de negros.
Motta foi retirado do chamado baixo clero da Câmara —o grupo sem expressão política nacional— quando Cunha assumiu a liderança do MDB, em 2013.
Em fevereiro de 2014, Cunha emplacou o afilhado político na presidência da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, uma das principais da Casa.
No ano seguinte, já em meio ao turbilhão político que resultaria no impeachment de Dilma Rousseff (PT), cuja mobilização tinha em Cunha um de seus principais líderes, Motta foi colocado na presidência da CPI da Petrobras.
À época, ele contratava uma das filhas do então presidente da Câmara, a hoje deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ), para lhe prestar serviços de comunicação. A CPI foi articulada por Cunha e teve como principal foco as acusações de corrupção contra o PT oriundas da Operação Lava Jato.
Descrito como sereno e pacificador por colegas, Motta patrocinou em uma das sessões um dos raros momentos em que discutiu aos berros com um colega. “Não tenho medo de grito. E da terra de onde eu venho, homem não me grita”, disse na ocasião a Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), hoje prefeito de Belém.
Motta também foi o nome escolhido por Cunha para liderar a bancada do MDB no início de 2016, mas acabou derrotado. Em abril daquele ano, o então apadrinhado de Cunha votou a favor do impeachment de Dilma.
“Com o orgulho de representar nesta Casa o povo do meu Estado, a Paraíba, convicto ainda mais da necessidade de uma união nacional depois deste processo, para que o Brasil retome o seu crescimento e o seu desenvolvimento, eu voto sim”, falou à época ao microfone.
Nesta quarta (4), em reunião com Lula, Motta justificou seu posicionamento na cassação de Dilma. De acordo com relatos, disse que chegou a alertar Cunha de que ele estava errado ao dar prosseguimento ao impeachment.
Motta não compareceu à sessão em que Cunha teve o mandato cassado, cinco meses após a votação do impedimento da petista.
Nem governista nem oposicionista
Mesmo após a queda do padrinho, Motta continuou próximo aos sucessores. Rodrigo Maia direcionou ao parlamentar, por exemplo, a importante relatoria da chamada PEC do Orçamento de Guerra, durante a pandemia da Covid-19. Sob Lira, ele ficou com a relatoria da renegociação das dívidas estudantis do Fies.
Motta trocou em 2018 o MDB pelo Republicanos e é aliado de outros políticos de peso, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro e aliado de Bolsonaro.
Entre pares, é descrito como alguém que não é nem governista nem oposicionista.
Ele esteve nas bases de apoio dos governos de Michel Temer (MDB) e Bolsonaro e, agora, sob Lula, adota um discurso de independência —apesar de, no final de 2022, ter sido contra a aprovação da PEC que deu uma folga orçamentária ao petista em 2023.
Motta vem de família de políticos. Seu avô foi deputado federal, sua avó Francisca Motta (Republicanos) é deputada estadual e seu pai, Nabor Waderley (Republicanos), é prefeito e candidato à reeleição de Patos (PB).
Com Folha Online